Entender a complexidade do espaço urbano e reconhecer as forças sociais, econômicas e políticas que o produzem são formas de olhar criticamente onde nos situamos na cidade
O conhecimento urbanístico é uma importante ferramenta para o desenvolvimento da cidadania dos jovens. Além da cidade ser uma manifestação concreta dos conteúdos estudados na escola — como geografia, história e até matemática, nas estatísticas e dados socioeconômicos –, compreender a complexidade dos seus aspectos e identificar as forças naturais, econômicas e políticas que a produzem são formas de desenvolver o olhar crítico e a prática cidadã.
Segundo o arquiteto e urbanista Washington Fajardo, pesquisador-visitante da Universidade de Harvard sobre políticas habitacionais e desenvolvimento comunitário, nem sempre é fácil ter essa percepção. “Nós estamos dentro da cidade e somos parte dela — é nela que moramos, nos deslocamos, trabalhamos, estudamos, nos divertimos. Esse envolvimento faz com que, muita vezes, a gente não consiga pensá-la criticamente”.
Para ser capaz de fazer essa reflexão, segundo ele, é preciso observá-la com certo distanciamento, o que implica em olhar para a problemática a nossa volta — os fatores políticos, ambientais e econômicos que levam os diferentes grupos sociais a viverem de determinada maneira. Nesse sentido, um material pedagógico como “Aprendendo a viver na cidade”, da BEI Educação, ajuda a conectar os pontos para auxiliar os jovens a ganhar essa leitura. “ A cidade tem seu próprio repertório, códigos, sentidos e significados. Se conseguimos ler essas relações, somos capazes de interpretar a mensagem que está sendo passada e tomar as melhores decisões como cidadãos”.
Fajardo dá um exemplo: a relação do tempo gasto por um estudante para se deslocar de sua residência até a escola e a distância real de sua casa até a escola. “Outros colegas que estão na mesma distância podem chegar mais rápido, pois o tempo vai depender do meio de transporte (carro ou ônibus) e da infraestrutura urbana do entorno (ruas, avenidas, viadutos etc)”, explica. “Isso mostra que o espaço urbano não distribui de maneira equânime os serviços e benefícios. O pensamento crítico importa para ver onde você se situa na cidade”.
O simples ato de atravessar uma rua e ir até a padaria também evidencia essas complexidades a ser observadas: se a via tem pavimentação adequada, se a pessoa consegue atravessá-la sem correr risco, se a calçada é segura. “Vários serviços públicos tiveram que ser acionados para isso, como a construção do desenho dessa rua, a colocação do semáforo, a poda de uma árvore, a pintura da faixa de pedestre, o conserto do buraco da rua”, enumera o arquiteto.
Esse ato, continua Fajardo, também é uma síntese da própria vida na cidade, que envolve as relações políticas, sociais, culturais e econômicas, e também as subjetivas e emocionais. “Nesse trajeto, eu posso tanto ser atropelado, encontrar um parceiro para um negócio ou até o amor da minha vida”.