Entender o que são juros e como eles afetam o dia a dia do consumidor é uma importante lição de educação financeira
O que são os juros? Por que eles existem? Existe alguma forma de o consumidor usar as taxas de juros a favor de suas finanças?
Entender o que são as taxas de juros faz parte da educação financeira. Um consumidor com esse conhecimento saberá como avaliar as taxas tanto em empréstimos e crédito quanto em aplicações. E, assim, conseguirá obter benefícios com o “poder” dos juros.
O que são juros
Podemos dizer que os juros são o preço do aluguel do dinheiro. Sim, o dinheiro tem um preço. Quando você empresta dinheiro a alguém, espera receber o valor e mais um acréscimo de volta. Isso porque você deixou de poder usar o dinheiro que tinha agora. E, por isso, deve receber uma remuneração em troca. De uma certa forma, “alugou” seu dinheiro para quem o tomou emprestado.
Da mesma forma, quem pediu esse recurso emprestado precisa pagar o preço por essa operação. E esse preço é expresso pela taxa de juros.
Mas por que taxa de juros? O que são taxas?
Na coleção Aprendendo a Lidar com Dinheiro, da BEĨ Educação, encontramos a seguinte definição: taxa é uma porcentagem que é adicionada ou subtraída de um número. Quando a taxa é adicionada, pensamos nela como um acréscimo. Por outro lado, quando ela é subtraída, pensamos nela como um desconto.
Em geral, as taxas de juros são expressas em função de um tempo. Por exemplo: 10% ao ano, 1% ao mês etc.
Juros simples e juros compostos
Voltando aos juros, é importante conhecer a diferença entre juros simples e juros compostos. No site Por Quê – Economês em Bom Português, encontramos as definições e explicações.
Os juros compostos são assim chamados quando os juros cobrados – ou pagos – incidem sobre o valor principal e sobre os juros de cada período.
O mercado financeiro está organizado em torno dos juros compostos. Investimentos pagam juros sobre juros; em dívidas, juros também incidem sobre juros. Isso significa que um investimento cresce de maneira exponencial: quanto mais tempo você deixa o dinheiro lá, mais juros são gerados, e mais juros incidem sobre juros.
No caso dos juros simples, os juros incidem apenas sobre o valor inicial, de maneira fixa. Os juros de cada período não entram no cálculo do próximo.
Essa é a grande diferença entre juros simples e juros compostos:
- nos juros simples, os juros são cobrados – ou pagos – apenas sobre o valor inicial;
- nos juros compostos, os juros são cobrados – ou pagos – sobre o valor inicial e sobre os juros do período anterior.
Com um exemplo, fica mais fácil de entender.
Suponha que você tenha R$ 500 para investir e pode manter esse dinheiro aplicado por dois anos. E que você escolha um investimento que lhe promete uma taxa de juros de 10% ao ano.
Em um sistema de juros simples, a taxa incide apenas sobre o valor investido. Então, tanto no primeiro como no segundo anos, você receberá R$ 50 a título de juros. No período inteiro, você terá ganhado R$ 100 de juros.
Já no sistema de juros compostos, juros incidem não apenas sobre o principal, mas também sobre os juros ganhos no primeiro ano.
No caso, você receberá os R$ 100, que são os juros sobre o principal, mais um adicional sobre R$ 50 × 10% = R$ 5, que são os juros sobre os juros ganhos no primeiro ano. Então, no fim de dois anos, os juros totais ganhos são iguais R$ 105.
Um exemplo numérico mais longo
Em dois anos e nesse exemplo, a diferença parece pouca. Mas o poder dos juros compostos cresce com o tempo. Os economistas do Por Quê? elaboraram um gráfico que mostra como ela é grande.
Partindo dos mesmos R$ 500 do exemplo acima, foram consideradas duas taxas de juros ao ano: 10% e 12%. Elas parecem muito próximas, certo? Mas vejamos o que acontece ao longo do tempo. Depois de 10 anos, o valor do investimento com a taxa mais alta será cerca de 20% maior que o outro; depois de 20 anos, a diferença chega a 43%.
Fatores que influenciam os juros pagos
Em entrevista ao blog da BEĨ Educação, o consultor financeiro Manoel Garcia Canabal explica os três fatores que influem nessa dinâmica dos juros compostos. O primeiro é a metodologia de cálculo, ou seja, o fato de os juros de cada período também virarem uma nova base de cálculo.
O segundo fator, segundo ele, é a taxa contratada. “Antes de fechar uma negociação, é muito importante verificar as oportunidades de empréstimos que oferecem taxas mais vantajosas”, recomenda ele.
O terceiro fator é o prazo do empréstimo. O consultor explica que os prazos longos com parcelas pequenas absorvem maior montante de juros. Por isso, ele recomenda que, sempre que houver condições, deve-se optar por um prazo menor com parcelas de maior valor.
Dívida é sempre ruim?
Em geral, quando ouvimos a palavra “dívida”, costumamos associá-la a algo prejudicial, negativo. Mas será que dívida é sempre ruim?
Na visão do consultor financeiro, a resposta é não: a dívida não é sempre ruim. No entanto, ele observa a necessidade de ter clareza sobre o objetivo a ser alcançado com o valor obtido. “Se os recursos não forem utilizados, gerarão uma perda de patrimônio pelos juros cobrados, por menores que sejam”, afirma.
Manoel Canabal lembra que o endividamento pode ser usado para dois fins principais. O primeiro é a cobertura de contas a pagar para as quais não temos recursos suficientes. Nesse caso, em geral se usam empréstimos.
Usar esses valores para quitar contas de maneira mais imediata serve a vários propósitos positivos. Um deles é não ficar sem o fornecimento de água, luz e telefone, quando forem contas de consumo. Outro é não ficar sujeito a processos judiciais nos casos em que o não pagamento leva a essa situação, como, por exemplo, pagamento de condomínio predial.
A segunda finalidade principal que o consultor cita para o endividamento é a aquisição de bens, como imóveis, veículos etc. Para esses casos, costuma-se usar a modalidade de financiamento. Em geral, são bens de maior valor, cuja aquisição sem o crédito ficaria muito mais difícil para boa parte da população. E essas propriedades passam, quando quitadas, a integrar o patrimônio da pessoa.
Quando a dívida é ruim?
Para Canabal, a dívida se torna algo ruim quando a pessoa não consegue quitá-la. Essa situação é chamada de inadimplência. Nesses casos, em geral, o credor exerce o direito de cobrar multa, juros e outros encargos. Se a pessoa já está com a capacidade de pagamento comprometida, essas cobranças podem piorá-la ainda mais.
“O compromisso de pagamento com os credores tem que ser tratado com muita seriedade e pontualidade”, diz o consultor. “Se não o cumprir, em vez de aumentar seu patrimônio, a pessoa pode perder boa parte dele.”
Crédito como bom instrumento financeiro
Ainda nessa análise, o consultor afirma que “a dívida é um bom instrumento financeiro quando os recursos captados têm um custo menor que os benefícios gerados, no presente ou no futuro”.
Os benefícios gerados representam um incremento de seu patrimônio em relação à situação atual e podem ser tanto materiais como intelectuais.
Aqui, Canabal cita o financiamento para educação, intercâmbio e aprimoramento profissional. “Ele viabiliza a capacitação e o desenvolvimento da pessoa, que pode conseguir empregos com maior remuneração”, observa.
Outro exemplo que ele cita é a captação de recursos para uma reforma ou ampliação do imóvel. Para ele, esse crédito traz ao menos dois benefícios que o tornam positivo.
“O primeiro diz respeito à utilização dessa benfeitoria, que é uma comodidade e uma efetivação de uma realização pessoal”, afirma. “O segundo é a valorização do bem, que, pela benfeitoria, tem um crescimento de valor superior ao investimento feito.”
Cartão de crédito e cheque especial, os “reis” dos juros altos
Notícias sobre endividamento da população brasileira e juros altos trazem normalmente dois “vilões”: o cheque especial e o cartão de crédito.
O cheque especial é uma linha de crédito disponibilizada automaticamente a alguns clientes bancários. Ela fica liberada para quando esse cliente precisar usar.
O cartão de crédito é um meio de pagamento. Ele possibilita que se façam compras sem precisar ter o dinheiro em mãos. Ao final de um mês, a operadora lista as compras feitas com ele e as exibe ao cliente, na chamada fatura do cartão. O cliente, deve, então, pagar o valor usado nas aquisições feitas. Se não pagar toda a quantia, o valor restante é considerado um empréstimo, sobre o qual incidem juros
Essas duas linhas de crédito são as que têm as maiores taxas de juros do Brasil. Mas por que isso acontece?
Canabal explica que esses créditos não têm nenhum bem oferecido em garantia. Além disso, eles ficam à disposição do cliente sem uma negociação prévia. Ele, em tese, pode usá-los como e quando quiser. Essas condições, na análise das instituições financeiras, têm se comprovado como elevadoras do risco de não recebimento.
A Serasa, empresa de gestão de crédito, divulgou em setembro de 2022 que 68 milhões de brasileiros estavam inadimplentes e, desse montante, 53% tinham dívidas com cartão de crédito.
Como usar bem o cheque especial
Apesar dos juros altos do cheque especial, o consultor financeiro aponta duas situações em que esse instrumento financeiro pode ser usado de forma positiva.
A primeira parte da premissa de a pessoa ter a oferta de uso do instrumento sem juros por até 10 dias. Ela possui uma conta com vencimento imediato, mas sua disponibilidade financeira é para daqui a cinco dias.
“Se o compromisso a pagar, após o vencimento, tem encargos de multa e juros, nesse caso a utilização do cheque especial evitará que a pessoa tenha esses acréscimos.”
Mas ele destaca que as vantagens somente se efetivarão se o saldo de crédito for coberto dentro do tempo ofertado pelo banco. “Caso isso não ocorra, serão cobrados juros de todos os dias em que o saldo do cheque especial foi utilizado”, lembra.
A outra situação diz respeito a situações emergenciais. Como exemplo, podemos citar gastos inesperados de saúde, manutenções de urgência etc. “A facilidade de utilizar esse crédito é muito importante nesses casos”, afirma Canabal.
Como usar bem o cartão de crédito
Para que esse meio de pagamento seja apenas benéfico para o consumidor, a principal recomendação de especialistas é: pague sempre o valor total da fatura.
Somente desta forma não haverá nenhuma cobrança de juros do chamado crédito rotativo.
Canabal dá algumas dicas para que essa condição seja cumprida:
- Ter um montante já aplicado que pode ser resgatado para pagamento da fatura do cartão, no dia de seu vencimento.
- Receber sua(s) renda(s), antes do vencimento da fatura do cartão, e já destinar o montante necessário para efetivar o pagamento integral.
- Limitar as compras do cartão ao montante que pode pagar no vencimento da fatura.
- Parcelar as compras sempre que o valor total, à vista ou parcelado, for o mesmo.
- Verificar todos os compromissos que foram parcelados para pagamentos em meses futuros (cartões e outros) e manter seus valores investidos para quitá-los, nos respectivos vencimentos.
Seguindo a regra de sempre pagar o valor total da fatura, o cartão pode trazer muitos benefícios. Alguns deles são:
- Conseguir parcelar, sem juros, a compra de um item de valor maior.
- Acumular pontos para trocar por itens de consumo, passagens aéreas, descontos em seguros etc.
- Efetuar compras com descontos por meio do cartão fidelidade.
Como fazer os juros trabalharem a seu favor
O consultor financeiro Manoel Canabal cita pelo menos duas maneiras de fazer os juros trabalharem a seu favor.
Desconto em compras
Imagine que você vai fazer uma compra. Ao chegar à loja, vê que o preço do item é igual para pagamento à vista ou parcelado. Se você tiver o dinheiro para a compra à vista, vale a pena solicitar um desconto. Isso porque o comerciante pagará uma taxa à operadora de cartão de crédito no caso da compra parcelada.
Aplicação financeira
Se a pessoa tem recursos disponíveis para fazer uma aplicação financeira, vai receber de volta o valor investido mais juros.
Existem basicamente dois tipos de remuneração para investimentos em renda fixa.
Prefixados: nessa modalidade, o investidor faz a aplicação por um prazo e já conhece, neste momento, a taxa e o valor dos juros que terá de retorno.
Pós-fixados: nesse caso, a rentabilidade está condicionada à variação de um índice pelo período da aplicação. Exemplos são aplicações atreladas à taxa Selic e ao IPCA.
“Nunca deixe todo o seu saldo na conta corrente”, recomenda o consultor. Ele explica que o prazo de aplicação é um fator chave para o retorno. \”Quanto mais longo, melhor será a rentabilidade em função das taxas de juros oferecidas e do Imposto de Renda decrescente.”
Manoel Canabal faz um alerta: se necessitar dos recursos no curto prazo, evite efetuar baixas do valor investido antes de 30 dias. “Se o fizer, terá a tributação do IOF, [Imposto sobre Operações Financeiras] que se inicia com 96% do rendimento no primeiro dia de aplicação e termina com 3% no 29º dia.”
Por isso, o consultor faz uma recomendação final. “Faça seu planejamento dos recursos e apure o montante e por quanto tempo eles ficarão disponíveis para aplicação”. Ele prossegue: \”verifique as várias opções de investimento oferecidas pelos bancos, escolha a mais rentável, mantenha as aplicações até o vencimento e assim maximize seus rendimentos de juros”. Dessa forma, eles serão positivos para você.
Seguindo no tema de educação financeira, confira neste texto por que lidar com o dinheiro de forma responsável é um aprendizado constante e multidisciplinar.