Exposições no Brasil e no exterior mostram reconhecimento da arte dos povos originários. Mês de agosto marca celebração e luta dos povos indígenas
A arte e cultura indígena brasileira estão ganhando evidência. Essa boa notícia dá alento para encerrar este mês de agosto, em que é celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas.
Atualmente, há ao menos três exposições de arte indígena brasileira em cartaz, duas no Brasil e uma na França. Além disso, peças de arte indígena passaram a integrar acervos de museus brasileiros e até de alguns estrangeiros.
Reportagem do site Neofeed deu destaque a esse movimento. O texto informa que instituições de prestígio, como o Centro Georges Pompidou e a Fundação Cartier para a Arte Contemporânea, ambos na França, adquiriram peças de arte indígena brasileira para integrarem seus acervos. Na avaliação do site, esse fato é um “termômetro do reconhecimento que a arte indígena brasileira começa a ter no mundo”.
Identidade indígena na formação cultural do Brasil
De fato, esse cenário de visibilidade da arte e cultura indígena pode ajudar em um resgate da identidade indígena na formação cultural do Brasil.
“Todos descendem dessa construção histórica, não só no sentido biológico, mas também em tudo o que existe no Brasil: culinária, língua e cultura de um modo geral”, afirma Cristine Takuá, autora do material didático da BEĨ Educação sobre cultura indígena.
Para Cristine, que é filósofa e integra o povo Maxakali, o Dia Internacional dos Povos Indígenas representa a riqueza e a ancestralidade da cultura brasileira como um todo.
“O Dia Internacional dos Povos Indígenas firmou o marco de resistência e luta dos povos indígenas em nome de diversas culturas, identidades e línguas, que, inclusive, fazem parte da construção de todos os países”, explica ela.
Atualmente, mais de 300 etnias indígenas vivem no país. Além disso, mais de 180 línguas são faladas até hoje. Com isso, as culturas dos povos originários se mantêm vivas e enraizadas no Brasil, apesar de inúmeros movimentos diretos e indiretos de invisibilização.
Exposições de arte indígena brasileira no Brasil e no exterior
Atualmente, há pelo menos duas exposições de arte indígena no país e mais uma com obras da mesma temática em Lille, na França.
Uma delas está na Casa de Cultura do Parque, em São Paulo: Mahku – Cantos de Imagem. Ele traz obras do coletivo Mahku – Movimento dos Artistas Huni Kuin, povo indígena de cerca de 14 mil pessoas que vive no estado do Acre e no Peru. O grupo é composto de cinco artistas.
Obras desse coletivo integram ainda os acervos do Masp (Museu de Arte de São Paulo), da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do MAR (Museu de Arte do Rio) e da Fundação Cartier, em Paris.
No Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, está em cartaz a exposição Bancos Indígenas do Brasil. Com curadoria de Marisa Moreira Salles e Tomas Alvim, a mostra reúne mais de 200 bancos pertencentes à Coleção BEĨ, provenientes de 40 etnias da Amazônia.
De acordo com os curadores da mostra, a Coleção BEĨ nasceu de um deslumbramento estético com a inequívoca beleza de formas, cores, grafismos e texturas dos bancos indígenas brasileiros. “Sua trajetória parte do encantamento para a compreensão mais profunda de seus significados”, afirma Marisa Moreira Salles.
Outras exposições da Coleção BEĨ estão previstas para este segundo semestre, no Rio de Janeiro, em Cuiabá (MT) e em Araxá (MG).
Outra mostra, esta virtual, reúne vídeos, fotografias, desenhos e músicas de 23 artistas indígenas de diferentes regiões e etnias, do Brasil e do exterior. A Presente Ancestral Indígena está em cartaz na quinta edição da The Wrong Biennale – um dos mais importantes eventos de arte digital do mundo.
A exposição tem curadoria da artista visual e compositora Tassia Mila, que é indígena pataxó-kiriri, de Jequié (BA). Gratuita, ela está disponível neste link.
Mostra com peças indígenas brasileiras em Lille (França)
Além disso, o festival Utopia Lille 3.000 abre espaço para artistas indígenas da América do Sul.
Em entrevista ao site RFI, o diretor artístico do evento, Didier Fusillier, avalia que a exposição é uma oportunidade para o público ver trabalhos que não são comuns nas instituições e museus tradicionais.
“Há trabalhos de comunidades Ianomâmi brasileiras e venezuelanas, há uma grande cena artística da América do Sul”, disse ele ao site. “Temos o Jaider Esbell, que encontramos aqui e na exposição Les Vivants, da Fundação Cartier”, completou ele na reportagem.
Arte e cultura indígena na escola
Cristine Takuá defende a importância do trabalho com o tema nas escolas de forma concreta e institucionalizada. Desde 2008, a Lei n° 11.645 torna obrigatório o ensino da cultura, das histórias e dos saberes indígenas na formação básica.
No entanto, para a filósofa e educadora, “é importante repensar o ambiente escolar e o seu papel dentro da sociedade, considerando uma mudança de currículo para abordar e respeitar essa pluralidade cultural do nosso país de forma consistente e prática”.
Em entrevista à Rádio CBN Amazônia, ela disse: “Eu tenho uma militância muito grande de conversar, de dialogar para a gente mudar o currículo das escolas do Brasil todo, não só das escolas indígenas”.
A jornalista Angela Pappiani, diretora do Ikore – Instituto de Tradições Indígenas – Núcleo de Cultura Indígena –, considera que a arte e as diversas formas de expressão podem ser um caminho de aproximação entre as culturas, pois são capazes de conectar pessoas e povos diferentes.
“Se essa oportunidade de contato com a arte indígena acontece durante a vida escolar de uma criança, a chance de ela se tornar um adulto mais aberto às belezas e às diversidades do mundo, mais conectado com a natureza e com a criatividade, é muito maior”, disse ela neste artigo do Blog da BEĨ Educação.
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