Mudanças na educação e novas concepções de ensino — como a introdução de metodologias ativas e o próprio contexto da pandemia — influenciam os espaços escolares
Se a relação de ensino e aprendizagem muda, os espaços onde ela ocorre também sofrem transformações. Das concepções de ensino do pós-guerra, passando pelos novos conceitos de educação trazidos pelas metodologias ativas, até as reflexões que a pandemia provocou no ambiente escolar, todas essas questões influenciam os projetos arquitetônicos das escolas.
Desde o pós-guerra, com o pensamento moderno na arquitetura e no urbanismo e também com a influência da educação moderna, a concepção dos espaços de ensino nas escolas mudou. Não só a sala de aula é vista como um espaço pedagógico e de educação, mas os espaços livres, a aula fora da sala, os locais de socialização também são valorizados enquanto espaços de aprendizado, influenciando muito a arquitetura escolar do último século.
Para Vinicius Andrade, arquiteto e urbanista formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e autor do material de cidades da BEI Educação, o projeto arquitetônico para os espaços de ensino só faz sentido quando repercute um projeto pedagógico. “Ele é uma resposta direta às propostas e práticas previstas na educação”.
A introdução das metodologias ativas de ensino, que colocam o aluno no centro do processo de aprendizagem, é um exemplo de como os projetos arquitetônicos das escolas já vêm se adaptando, desde a educação infantil até o ensino superior, à flexibilidade na formatação dos espaços.
“Nas salas de aula, aquela ideia de ter um palco fixo na frente com as cadeiras disciplinadas, criando uma diferença marcante na função social entre professores e estudantes, começa a ter outras modalidades. Surgem desenhos mais flexíveis, como sentar junto no chão, organizar as cadeiras em outros formatos ou a própria aula prevista em espaços fora da sala”, explica o especialista.
Isso pressupõe uma relação em que o aluno não é, como diz a própria origem da palavra, “aquele que não tem luz” e que depende da iluminação do professor. Ele passa a ter maior protagonismo e a atuar em um contexto de colaboração, impactando diretamente no desenho do espaço. “Isso já está sendo incorporado e é um processo, de forma que os projetos pedagógicos precisam avançar nesse sentido também”, destaca Andrade.
De acordo com ele, o próprio contexto atual da pandemia também desperta reflexões sobre o espaço escolar. “A questão da quarentena antecipa muitos desses princípios que já estavam incubados nas ideias de arquitetura escolar dos últimos anos e que valorizam a questão do espaço livre e da ventilação e iluminação naturais. Ela fortalece esses elementos, acompanhando um desejo que já estava presente nos projetos pedagógicos e arquitetônicos”, finaliza o professor.