Professor deve dar voz aos alunos e colocá-los como sujeitos do processo educacional; aprendizagem significativa pressupõe envolvimento e papel ativo na construção do conhecimento
Muito se fala sobre a importância do estudante ser protagonista do processo educacional. Mas o que significa exatamente ser protagonista? Gina Vieira Ponte, professora da Educação Básica da Secretaria de Educação do Distrito Federal há 29 anos, que atualmente atua na formação de educadores, explica que essa concepção de educação, que coloca o aluno como sujeito da aprendizagem, se contrapõe ao paradigma tradicional, em que ele é visto como objeto desse processo.
“Nas concepções tradicionais e hegemônicas de educação — que o autor Paulo Freire chama de educação bancária e alguns estudos denominam como educação colonizadora — a função dada ao estudante está muito relacionada a reproduzir, repetir, copiar, silenciar, obedecer. É a lógica do professor que fala e do aluno reduzido a expectador da aula. Já na perspectiva do estudante como sujeito, participando ativamente do processo de aprendizagem, a função do aluno é criar, construir, contestar, produzir, pensar, imaginar, vivenciar, argumentar, debater, fazer e sentir”, diz a educadora.
Segundo ela, em qualquer contexto, inserir o aluno como protagonista é importante para garantir a aprendizagem significativa. Mas, na atual conjuntura, em que os alunos que chegam à escola hoje são nativos digitais, chamados o tempo todo a participar, opinar, curtir, jogar e postar, a relevância é ainda maior. “O protagonismo tem a ver com isso. Se pudesse resumir em uma ideia, eu lembraria da frase de Benjamin Franklin que diz ‘diga-me e eu esquecerei; ensina-me e eu poderei lembrar; envolva-me e eu aprenderei.’”
Gina é autora do projeto Mulheres Inspiradoras, de formação de professores, que tem como pilar o protagonismo dos estudantes. O projeto se tornou política pública e hoje está presente em 40 escolas do Distrito Federal. De acordo com ela, o primeiro passo para garantir o protagonismo dos alunos é ouvi-los e se abrir para a avaliação deles. “O estudante se torna parte do processo educacional quando o professor se propõe a escutar o que ele pensa e a ver como as suas aulas reverberam nesse aluno”.
Ela conta que precisou se ressignificar como professora quando teve uma depressão grave por não conseguir envolver os alunos nas aulas. “Desenvolvi vários mecanismos para saber quem eram os meus alunos e como fazer um trabalho que tivesse sentido para eles”. Ela criou conta nas redes sociais para usar como ferramenta pedagógica e propôs um diário de bordo, no qual os alunos fazem um relatório de cada aula. “É preciso construir um ambiente de confiança, em que eles se sintam seguros para falar com sinceridade o que foi bom ou ruim, o que aprenderam ou não aprenderam”.
Para estimular o protagonismo dos alunos, Gina também recomenda que os professores se aproximem das teorias e da literatura sobre o tema e que tenham abertura para se questionar e pensar em metodologias que permitam aos estudantes dialogar com a sua realidade e agir — como rodas de conversa, produção de texto, trabalho em grupo e pesquisa de campo.
Para a educadora, assim como é necessário evocar o protagonismo dos estudante é preciso evocar também o protagonismo do professor. “Não tem receita. O professor precisa acreditar nisso. Quando ele entende o quanto ele ganha ao ouvir os estudantes e ao permitir que participem ativamente, isso representa colocar a aprendizagem e não o ensino no centro do processo.”