Na Escola Móbile, em São Paulo, alunos pesquisam percurso autoral de integrante da etnia Baniwa; ideia é incentivar o processo artístico como construção de conhecimento
O contato com a arte indígena na escola, além de trazer a discussão sobre esses povos originários, permite compreender a diversidade cultural brasileira. Na Escola Móbile, em São Paulo, um projeto desenvolvido no 6o ano do Ensino Fundamental pela professora Luana Minari, de Artes Visuais, estuda os povos indígenas no contexto de dois grandes temas — a cultura e a arte. A disciplina dialoga com História, que também aborda a questão indígena.
“Reconhecemos e compreendemos as culturas indígenas brasileiras como plurais e diversas e apontamos suas matrizes na tradição nacional, assim como sua participação na construção da contemporaneidade. Estudamos o que é cultura, tanto material quanto imaterial, e suas manifestações”, explica o Rodrigo Silveira, coordenador pedagógico da disciplina de Artes Visuais do Ensino Fundamental 1 e 2. “Para concretizar esses conceitos, torná-los tangíveis e aprofundar os conhecimentos específicos, escolhemos a etnia Baniwa, do Alto Rio Negro, no Amazonas. Eles detêm uma poderosa comunicação simbólica, além de mitologias próprias e uma cultura material estabelecida.”
O coordenador explica que na disciplina de Artes Visuais é abordado o percurso do artista como linha condutora das atividades, sob o recorte da Arte Contemporânea Brasileira. “Estimulamos os alunos a investigar o processo de algumas obras de artistas impondo a si mesmos a intencionalidade e os desafios que os artistas se colocaram para o desenvolvimento de sua expressão, linguagem e discurso”. Esta abordagem é amparada por quatro pilares: contextualizar (compreensão do tempo e do lugar do artista e das obras), apreciar (leitura das obras, mensagem, técnicas, materiais e processos), fazer (práticas e exercícios de realização e desenvolvimento de obras) e comunicar (dissertação sobre o trabalho e sua exposição).
Como parte desse estudo, os alunos contam com a presença do artista visual contemporâneo Denilson Baniwa, que utiliza suportes físicos e digitais para desenvolver seu percurso. A partir da contextualização e da apreciação das obras do artista e dos Baniwa, os estudantes partem para o fazer artístico. A ideia é que eles se apropriem da proposta de maneira autoral, demonstrando sua intencionalidade e explorando o tema por meio da linguagem visual e da investigação de técnicas e materiais. “Eles desenvolvem grafismos inspirados na cultura Baniwa — mitos, cestaria, sílabas gráficas — que servirão de matrizes para a gravação em linóleo. Essas matrizes serão impressas em papel e também utilizadas para compor uma estamparia em tecido.”
O resultado das produções dos alunos são comunicados tanto por meio de um texto que sintetiza o seu percurso de artista quanto por uma exposição da obra em si. “Esse processo faz com que a abordagem de apropriação permita tanto a ampliação de repertório quando o desenvolvimento subjetivo e autoral do aluno”.
Para Silveira, é importante dar voz e espaço aos agentes da arte indígena. “O professor também pode buscar em suas comunidades quem está produzindo, local e contemporaneamente, e trazê-los para a sala de aula, dando continuidade a esta construção permanente da cultura brasileira.”