Por meio da apresentação das manifestações artísticas dos índios brasileiros, escolas podem contribuir para a valorização da cultura desses povos e para a formação de crianças e jovens com um olhar mais crítico e diverso
Quando os primeiros colonizadores portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, a população indígena era de cerca de 3 milhões de habitantes. Atualmente, de acordo com o último censo demográfico do IBGE, de 2010, são aproximadamente 900 mil índios, de 350 etnias, que habitam milhares de aldeias por todo o território nacional.
Para a jornalista Angela Pappiani, diretora do Ikore (Instituto de Tradições Indígenas – Núcleo de Cultura Indígena), que atua há 30 anos com a questão indígena, o abismo que nos separa dos povos originários do nosso país, construído ao longo de mais de cinco séculos de colonização, é o grande responsável pelo preconceito e o desrespeito aos direitos básicos desses povos existirem.
“Não conhecemos os povos indígenas, nada sabemos sobre sua história, cultura, pensamento e arte. O que nos chega, por meio de livros didáticos ou mídia oficial, é encoberto por nossa incapacidade de enxergar o outro, o diferente. E por isso mesmo é tão fácil ignorá-los, não escutar suas reivindicações, não procurar compreender seu modo de vida e, assim, aceitar a violência que é praticada cotidianamente contra eles.”
De acordo com ela, a arte e as diversas formas de expressão podem ser um caminho de aproximação entre as culturas, pois são capazes de conectar pessoas e povos diferentes. “A arte indígena é potente, rica e diversa. Com sua beleza e formas nos toca e nos comove. E assim pode comunicar com profundidade o pensamento e a maneira que os povos indígenas escolheram para estar no mundo, em comunhão com a natureza.”
Ela destaca que a arte está presente em cada momento de vida dos povos indígenas. “Em cada objeto, em cada ritual, em cada gesto, a arte surge, expressão de força e conexão com o mundo mítico e espiritual”. Angela cita a cerâmica, a cestaria, os instrumentos musicais, os adornos, a arquitetura, os bancos zoomorfos esculpidos em madeira, e diz que toda a cultura material dos povos originários está carregada de princípios e objetivos, valores estéticos e sociais e de história e aspirações.
Segundo ela, é importante as escolas trazerem a temática para a sala de aula. “Se essa oportunidade de contato com a arte indígena acontece durante a vida escolar de uma criança, a chance dela se tornar um adulto mais aberto às belezas e diversidades do mundo, mais conectado com a natureza e com a criatividade, é muito maior”, finaliza a diretora.