O vínculo a contextos reais favorece o engajamento dos alunos, que veem sentido no que estão estudando e compreendem que o conhecimento não é fragmentado
A interdisciplinaridade é uma estratégia pedagógica que tem a função de estabelecer relações entre disciplinas ou áreas de conhecimento. A pedagoga Andréa Bichara, que trabalha há 20 anos com o tema e é CEO da Metodologia AB, empresa voltada para o reposicionamento educacional de professores e escolas, alerta, no entanto, que a interdisciplinaridade só vai impactar positivamente a aprendizagem se estiver relacionada a contextos reais e que façam sentido na vida do aluno.
Ela explica que um dos benefícios da interdisciplinaridade é levar o estudante a entender que não aplicamos conhecimentos de forma fragmentada no nosso dia a dia. Uma simples ida ao supermercado, por exemplo, pode articular a elaboração de uma lista de compras (que é um gênero textual), a comparação de preços (uso da matemática) e a interpretação de uma tabela de calorias de um alimento (conhecimentos de ciências). “Quando entramos com um projeto interdisciplinar e o trazemos para a realidade dos estudantes, eles se engajam e tornam-se mais participativos, pois conseguem perceber como aplicar concretamente o que estão aprendendo e entendem o que estão fazendo na sala de aula”.
Um dos desafios de realizar essas propostas, segundo ela, é não forçar situações ou criar histórias descoladas do cotidiano para vincular as disciplinas, o que enfraquece o seu potencial e esvazia o seu significado para os alunos. Ela dá um exemplo, que seria criar um pretexto de uma festa de aniversário para um problema de matemática que envolve adição, em que um convidado come 75 brigadeiros e a outro, 35.
“É interessante usar o tema da festa e dos doces, pois isso atrai os alunos. Mas ninguém vai comer essa quantidade de docinhos, isso é irreal”, observa. “Então, para se trabalhar interdisciplinarmente, seria mais produtivo falar da história do brigadeiro, como esse doce tipicamente brasileiro surgiu no país, como é a receita, quantas latas de leite condensado eu preciso para fazer determinada quantidade de doces, como os ingredientes são misturados e por aí vai”. Esses seriam exemplos de informações que articulam diferentes disciplinas e dialogam com uma situação de vida real dos alunos.
Além da falta de segurança e de qualificação para trabalhar de forma interdisciplinar, o que gera equívocos, como forçar contextos e buscar histórias vazias de significado para os alunos, os professores precisam vencer outras dificuldades. Uma delas é a estrutura de ensino já consolidada e fragmentada, que compartimenta o conhecimento em diferentes livros, como o de português, o de matemática etc, o que torna mais difícil caminhar por temas. Outra é dispor de tempo e condições para traçar uma estratégia interdisciplinar, o que demanda pesquisa de um contexto local, nacional ou mundial de interesse dos alunos, alinhar as disciplinas que serão consideradas e pensar em como aplicá-la no dia a dia e não em um projeto isolado.
Segundo Bichara, se a interdisciplinaridade trouxer temas para abordar não só questões científicas, mas também as culturais, ela favorece ainda a formação de sujeitos articulados e muito mais observadores, porque vão perceber o que existe além do óbvio. “A interdisciplinaridade aplicada ao contexto de vida e interesse dos alunos se torna uma das melhores ferramentas para a aprendizagem significativa e motivadora\”.