Brasil tinha mais de 68 milhões de pessoas com contas em atraso em setembro de 2022 e educação financeira pode evitar esse tipo de situação
O Mapa da Inadimplência da Serasa de setembro de 2022 aponta que 68,4 milhões de brasileiros estão com contas atrasadas. Essa situação, chamada de inadimplência, alcançou níveis recordes no Brasil neste ano. E alerta para a importância de promover consciência e educação financeira para a população.
No entanto, o brasileiro médio tem certa resistência em falar de dinheiro. “O diálogo sobre dinheiro ainda encontra obstáculos, seja em casa ou dentro das escolas”, afirma Débora Hack, gerente de projetos e produtos educacionais da BEĨ Educação.
Com isso, muitas gerações não aprenderam a gerir seu orçamento, gastar, poupar e investir. Saber usar bem o dinheiro prepara o cidadão para situações como a perda de renda ou despesas imprevistas.
Aprendizado financeiro na juventude
Na avaliação de Débora Hack, da BEĨ Educação, o aprendizado financeiro deve ser adquirido ainda na juventude. Desta forma, segundo a profissional, esse aprendizado “alcança seu potencial, com o desenvolvimento da ideia de segurança financeira”.
Para essa busca, Débora afirma que “a literatura específica, direcionada à saúde financeira, pode e deve ser uma fiel aliada”. Isso porque, em sua visão, ela incentiva a pessoa a “pensar em seu futuro financeiro”. “Ao abordar temas como orçamento e planejamento de gastos, obras específicas conseguem auxiliar no comprometimento do jovem com um comportamento financeiro saudável”, diz a especialista.
No entanto, Débora destaca que não adianta “somente ter uma base teórica sem partir para o mundo prático”. Por isso, ela considera importante “consultar colegas e amigos mais experientes, assistir a vídeos, ler tutoriais e, dentro das possibilidades, ter apoio profissional de um conselheiro ou consultor”.
Imediatismo da juventude X poupança
Especialista em educação, Débora analisa que o imediatismo, característico da juventude atual, está relacionado à contração de dívidas na vida adulta. “Poupar é uma necessidade, mas o público jovem, em geral, não quer esperar para colher os frutos de seus investimentos, sempre buscando ser recompensado imediatamente”, afirma. Desta forma, ela avalia que uma possível chave para a estabilidade financeira “é aprender a planejar datas para essas recompensas, com o estabelecimento de metas e de um caminho para alcançá-las”.
Débora lembra que guardar dinheiro não significa deixar de gastar com itens não essenciais. Além disso, ela pondera: “Não há problema algum em se dar um mimo de vez em quando”. O cerne da questão, em sua visão, é a importância de gerir bem o dinheiro. “Poupar é investir ou adquirir com consciência e de maneira a não prejudicar os objetivos estabelecidos e, obviamente, a segurança financeira.”
É por esse caminho de educação e consciência financeira que Débora acredita que os números de inadimplência do país poderão ser revertidos. “É preciso entender que poupar traz benefícios a longo prazo. Não gastar agora para, no futuro, alcançar algo que tem em seu plano de vida é estimulante”, afirmou.
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Educação financeira e a BNCC
Para ajudar a lidar com isso, a educação financeira passou a ser obrigatória na Educação Básica no final de 2019. Ela está prevista na Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
O texto faz menção explícita ao tema ao abordar o componente curricular da matemática nos Anos Finais do Ensino Fundamental. “O estudo de conceitos básicos de economia e finanças” é importante tendo em vista a educação financeira dos estudantes, diz. “Podem ser discutidos assuntos como taxas de juros, inflação, aplicações financeiras (rentabilidade e liquidez de um investimento) e impostos.”
A BNCC ainda salienta que essa unidade temática “favorece um estudo interdisciplinar envolvendo as dimensões culturais, sociais, políticas e psicológicas, além da econômica, sobre as questões do consumo, trabalho e dinheiro”. E dá um exemplo de como trabalhar o assunto de forma interdisciplinar. Diz o texto: “Desenvolver um projeto com a História, visando ao estudo do dinheiro e sua função na sociedade, da relação entre dinheiro e tempo, dos impostos em sociedades diversas, do consumo em diferentes momentos históricos, incluindo estratégias atuais de marketing”.
Dentro desse tema, entenda por que a aprendizagem significativa da Matemática contribui para a formação de cidadãos mais conscientes financeiramente.