Em setembro de 2021, é comemorado o centenário do célebre educador brasileiro e uma das principais vozes mundiais da pedagogia crítica e inclusiva, aquela que liberta pelo conhecimento. Reverenciado globalmente e reconhecido “Patrono da Educação Brasileira”, o legado de Paulo Freire é incomensurável. Sua visão humanista, com um método próprio de alfabetização – que não apenas ensina a ler e a escrever palavras, mas, por meio delas, emancipa e forma agentes de transformação social – percorreu o mundo.
O educador, escritor e filósofo é o brasileiro com mais títulos Doutor Honoris Causa concedidos por universidades da Europa e da América, deu nome a 350 escolas e instituições internacionais, e recebeu diversas honrarias, como o prêmio Educação pela Paz, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura (Unesco), em 1986.
Paulo Freire é o terceiro educador mais citado do mundo em trabalhos acadêmicos da área de ciências humanas, de acordo com levantamento da London School of Economics, por propor uma nova forma de relacionamento entre professor, estudante e sociedade. Nele, o aluno não é aquele que somente aceita o que lhe é transmitido; é também um sujeito ativo, que questiona, argumenta, interage e toma decisões,
a partir da compreensão do todo. “Não há saber mais, ou saber menos, há saberes diferentes”, dizia.
De contestado a contestador
No Brasil, Paulo Freire ainda é alvo de resistência e fake news sobre o que realmente acreditava. Mas isso não é de hoje. Fato é que desenvolveu um método de alfabetização que desperta a criticidade, ao mesmo tempo que respeita diferenças, constrói identidade, promove o diálogo, amplia a consciência e cria oportunidades, com empoderamento e protagonismo.
O método de alfabetização, que carrega o seu nome, ganhou repercussão em uma experiência na cidade de Angicos, no Rio grande do Norte, em 1963. Durante 40 horas, um grupo de 300 adultos participou do processo de alfabetização freiriana, em que as pessoas falavam sobre sua realidade de vida, onde estavam as raízes de seus problemas, como buscavam soluções, e ganhavam consciência de si mesmo e do ambiente que as cercava. Nestes diálogos, quando a palavra “terra” ou “enxada”, por exemplo, era construída já fazia todo sentido dentro do contexto de cada um. “A leitura do mundo precede a leitura da palavra” traduzia o seu pensamento.
Freire foi convidado a traçar o Plano Nacional de Alfabetização. Porém, por ser rápido e eficaz, o método proporcionaria o letramento de milhares de brasileiros que, na época, passariam a ter condições de votar, o que foi visto como ameaça pelas classes dominantes. Com o golpe militar de 1964, o plano foi cancelado, Freire acabou preso e depois exilado. Muitas obras e contribuições à educação vieram deste período. Uma delas “Pedagogia do Oprimido” o consagrou e, até hoje, é um dos livros mais traduzidos e comentados mundialmente. Paulo Freire retornou ao Brasil em 1980, onde viveu até sua morte em 1997.
Projetar possibilidades e esperançar
No centenário de seu nascimento, o legado de Paulo Freire reverbera e representa profundas reflexões sobre educação, senso crítico, cidadania, capacidade de diálogo, alteridade, respeito à individualidade, empatia e percepção de mundo para transformar realidades. Em sua pedagogia ativa, há um constante processo de descoberta: “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre”.